segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Madallaine III


Madallaine costumava andar em círculos. Evidentemente, ela não percebia isso de imediato, somente quando, após uma longa caminhada, ela se deparava com o mesmo ambiente infelizmente tão conhecido para ela. Começava de novo, tomava outro rumo, mas não havia jeito: de novo à estaca zero. Madallaine começará agora a andar de olhos fechados.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mudança forçada

É com exclusividade que informo sobre o desaparecimento de nossa pseudo-escritora. Carol Criativa estava tomando conta de sua vida quando uma nave do planeta Contabylos a abduziu, sem nenhum aviso prévio. A nave, provida de equipamentos altamente tecnológicos, estava cheia de seres sem alma, armados de potentes calculadoras financeiras. Não foram feitas perguntas, não pediram permissão para fazerem os procedimentos. Em breve, Carol Criativa deixaria de existir e, em seu lugar, surgiria uma espécie de robô, programado para calcular imposto de renda e a depreciação do período. Era uma mudança dolorosa, mas deveria ser feita. De acordo com os seres de Contabylos, essa era a maneira de evoluir. E, assim, logo seria feito o procedimento. Carol não mais Criativa deixaria de escreveria por prazer; não ouviria músicas e nem tomaria sol. Sorvetes e balas de goma seriam banidos. Tudo o que precisava para viver estaria em um grande Manual, a Bíblia do planeta Contabylos. Carol fora colocada na máquina que a transformaria em um dos seres evoluídos que estavam a sua frente. Conseguirá fugir antes de ter a mente aprisionada? 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Escola



Foi uma semana difícil. A professora começou a ensinar como fazer contas de divisão, e eles ainda teriam aquela aula estranha com o “material dourado” (que não era dourado). A professora era chatíssima, com aqueles olhos esbugalhados e a voz esganiçada. Só naquela tarde levara três broncas dela, só porque copiava a lição com considerável lerdeza. Mas como poderia copiar a matéria com tantos problemas? Estava triste, pois não ganhou as canetinhas da Faber-Castell de 24 cores, que podiam ser encaixadas umas nas outras, e seu tênis de luzinha estava meio capenga (o pé direito piscava às vezes; o esquerdo deixara de piscar). Porcaria! E ainda por cima ganhara lenços (L-E-N-Ç-O-S!) de aniversário. Definitivamente, copiar a lição não estava em sua lista de prioridades. Como se isso não fosse o bastante, ainda precisaria bolar um plano para bater nos colegas de classe que insistiam em puxar seu cabelo.  Não achava que a escola seria tão desafiadora...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pandificação



A segunda-feira tinha sido muito cruel para com a moça. Chegou em casa, deitou e tentou dormir mas, de alguma forma, sabia que algo havia mudado, ou mudaria muito em breve. Não sonhou naquela noite. Na manhã seguinte, levantou-se e olhou-se no espelho. E lá estava, estampado em sua face, o resultado do dia anterior: virara um panda. As marcas características desse fofo animal estavam em volta de seus olhos, gritantes, profundas, permanentes. Ora, sabia que havia uma epidemia de “pandice”, mas tomara todos os cuidados para evitá-la. Como isso fora acontecer justo com ela? Usou maquiagem para disfarçar, colocou um par de óculos escuros e saiu. Na rua, todos a observavam... todos sabiam o que havia atrás de tanta maquiagem e óculos tão grandes. Não se aproximavam, pois temiam padecer da enfermidade da moça. Voltou para casa, e lá estava sua família, com o mesmo olhar preocupado que recebera de tantas pessoas na rua. Foram todos para a sala, terem uma conversa de família. Os pais, o primo e a tia sentaram-se apertados num único sofá; ela ficara só em uma poltrona velha. Explicaram que a doença era gravíssima, que não podiam cuidar dela em casa, e que a solução seria levá-la para um zoológico, naturalmente. Lá haveria uma ala especial para seres diferentes, como ela. Conformou-se, afinal, que poderia fazer nas ruas da cidade uma moça-panda? Trabalharia num circo, ou entregaria panfletos para o público infantil... Não! O zoológico seria melhor. Partiu em seguida, pois não havia mala a ser feita (que tipo de roupas ou aparelhos eletrônicos pandas utilizam?!). Quando chegou, encarou seu futuro: moças e rapazes, meio humanos, meio pandas, sentados, usando trapos, e comendo bambu. Suas tarefas se resumiam em comer, dormir, e exalar um ar pandífico, que os visitantes do zoo tanto gostavam. Encarou com entusiasmo sua nova vida. Que mal havia em ser um panda, não?

sábado, 24 de março de 2012

Carologismos


Nesse outono (já?!), decidi fazer algo diferente. Decidi trazer para o uso cotidiano palavras criadas por mim em meados da década de 90. Na realidade, não sei se fui eu a criadora de tão incríveis palavras; não pesquisei no Google, pois prefiro achar que essa foi minha grande contribuição para a humanidade: a criação de duas palavras.
A primeira delas tem um uso bem amplo: “fudioso”. Pode ser usada em momentos de frustração, para descrever situações desconfortáveis e imprevistas, ou também coisas que não prestam. É indicada para: pessoas que desejam xingar perto de crianças, uma vez que não foi classificada como uma palavra de baixo calão; ambientes em que você não tem intimidade suficiente para usar palavrões cabeludos; crianças que desejam expressar seu descontentamento sem levar chineladas dos pais.
Exemplos de uso:
“Hoje está um calor fudioso!” (Hoje está muito quente.);
“Esse sofá está fudioso.” (Esse sofá está velho/feio.);
“Acordei com o cabelo fudioso.” (Acordei com o cabelo bagunçado/duro/medonho.);
“Tive uma semana fudiosa.” (Tive uma semana ruim.);
“Ganhei brinquedos fudiosos de Natal” (Ganhei brinquedos porcaria.).

A segunda palavra tem um uso bem mais restrito: “fulosado”. É um sinônimo para “esgarçar”. O uso ideal é para descrever peças de roupas velhas, principalmente meias que estão com o elástico gasto.
Exemplos de uso:
“Minhas meias estão fulosadas.” (Minhas meias estão velhas e com o elástico gasto.);
“Presentearei meu amigo com cuecas, pois as dele estão completamente fulosadas.” (As cuecas de meu amigo estão frouxas e vetustas.).

Declaro, por meio desse texto que, a partir de hoje, está liberado o uso das palavras que criei. Não serão permitidas mudanças no significado e/ou ortografia. Usem-nas com sabedoria!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Abandono (?)

Prezados,

Se alguém ainda visita esse blog, peço desculpas pelo sumiço (ou talvez eu tenha feito um favor para todos nós e devesse continuar no isolamento...).
De qualquer forma, o blog não foi abandonado... Madallaine ainda vaga sem rumo, eu continuo reclamona e com planos de fazer algo engraçado (com resultado sempre deprimente).

A vida está mais ou menos boa. Ainda não fiquei rica... Quem sabe amanhã?

(:

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Madallaine II

Depois de muito tempo, ela decidiu aceitar o inaceitável: não pertencia àquele lugar, nem aquele lugar pertencia a ela. Agora só havia uma coisa a ser feita: arrumar seus poucos pertences e partir sem rumo. Pegou sua mala pequena, que ficava no fundo de um guarda-roupa antigo. Sempre soube que esse momento chegaria, mas fora enganada, por si própria e pelo lugar... preferia acreditar que a mala jamais seria utilizada. Pois bem, algumas coisas deveriam ser levadas, itens de maior importância e que tornariam a nova vida ao menos suportável. Não se preocuparia com o restante dos bens; o próximo ocupante que decidisse se seriam úteis ou deveriam ser descartados. Não era problema dela, e ela não mais se importaria.
Saiu. Não conhecia canto algum. Subiria num trem qualquer, sem saber seu destino. Desceria quando estivesse cansada, ou quando a paisagem fosse bonita. Acharia um novo lugar, quem sabe um melhor que o antigo. Ficaria lá até que fosse conveniente. E depois, partiria novamente.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Madallaine

Diferentemente de Marcela, que amara o jovem Brás Cubas durante quinze meses e onze contos de réis, ela o amou por mais tempo ainda, sem nenhum conto de réis envolvido. Talvez tivesse escolhido mal. Não sabia se de fato o amava; muito provavelmente, não. Era apenas uma obsessão, um capricho, um não sei. 
Teria a história tomado um rumo diferente se os progenitores da moça tivessem tantas posses como o pai de Brás Cubas? Jamais saberemos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Faxina

É preciso admitir: algumas pessoas gostam, sim, de faxina. É preciso admitir: eu gosto de faxina. Mas vejam bem, não é que eu goste de experimentar o novo produto que tira até as manchas que se formarão no futuro, ou sinta imensurável alegria ao passar pano no chão. Isso eu detesto. O que me agrada é a possibilidade de tirar tudo do lugar, eliminar os traços de sua presença, e colocar apenas o que me será útil num local diferente. E por que isso me deixa tão extasiada? Porque é exatamente isso que eu (e grande parte das pessoas, penso eu) tento fazer todos os dias da minha pacata existência. Mudo os móveis na impossibilidade de mudar de vida. Limpo as gavetas desejando fazer o mesmo com o coração. Separo roupas que não servem mais querendo fazer o mesmo com pessoas que já fizeram algum sentido pra mim, mas deixaram de fazer. Esfrego os móveis e o chão como se isso ajudasse a tirar as manchas deixadas pela vida. Lavo a louça como quem lava a alma. Jogo fora o iogurte vencido almejando fazer o mesmo com tudo que está estragado em mim. A casa está limpa, mas eu não. Vamos aos produtos mais fortes dessa vez.