terça-feira, 10 de abril de 2012

Pandificação



A segunda-feira tinha sido muito cruel para com a moça. Chegou em casa, deitou e tentou dormir mas, de alguma forma, sabia que algo havia mudado, ou mudaria muito em breve. Não sonhou naquela noite. Na manhã seguinte, levantou-se e olhou-se no espelho. E lá estava, estampado em sua face, o resultado do dia anterior: virara um panda. As marcas características desse fofo animal estavam em volta de seus olhos, gritantes, profundas, permanentes. Ora, sabia que havia uma epidemia de “pandice”, mas tomara todos os cuidados para evitá-la. Como isso fora acontecer justo com ela? Usou maquiagem para disfarçar, colocou um par de óculos escuros e saiu. Na rua, todos a observavam... todos sabiam o que havia atrás de tanta maquiagem e óculos tão grandes. Não se aproximavam, pois temiam padecer da enfermidade da moça. Voltou para casa, e lá estava sua família, com o mesmo olhar preocupado que recebera de tantas pessoas na rua. Foram todos para a sala, terem uma conversa de família. Os pais, o primo e a tia sentaram-se apertados num único sofá; ela ficara só em uma poltrona velha. Explicaram que a doença era gravíssima, que não podiam cuidar dela em casa, e que a solução seria levá-la para um zoológico, naturalmente. Lá haveria uma ala especial para seres diferentes, como ela. Conformou-se, afinal, que poderia fazer nas ruas da cidade uma moça-panda? Trabalharia num circo, ou entregaria panfletos para o público infantil... Não! O zoológico seria melhor. Partiu em seguida, pois não havia mala a ser feita (que tipo de roupas ou aparelhos eletrônicos pandas utilizam?!). Quando chegou, encarou seu futuro: moças e rapazes, meio humanos, meio pandas, sentados, usando trapos, e comendo bambu. Suas tarefas se resumiam em comer, dormir, e exalar um ar pandífico, que os visitantes do zoo tanto gostavam. Encarou com entusiasmo sua nova vida. Que mal havia em ser um panda, não?

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